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E se não der certo...

       Modificar práticas dentro da sala de aula é sempre um desafio, e como toda mudança, leva tempo até que as coisas realmente funcionem. Durante a implementação do trabalho cooperativo com uma turma que não tinha o hábito de trabalhar dessa forma, algumas dificuldades podem surgir.

       Pretendo dar aqui algumas sugestões que deram certo comigo e que podem ou não dar certo com você. Afinal, lembremos sempre que cada aluno, cada turma e cada realidade educacional são únicas. De qualquer forma você pode sempre contar com sua criatividade e vontade de mudar.

  • E se os alunos não quiserem trabalhar em grupo...

       Sempre que for propor algo novo, é importante conversar com a turma antes. Lembre-se que aprender deve ser prazeroso e não uma obrigação. Pergunte o que eles sabem sobre cooperação, converse sobre a importância de sermos cooperativos, sobre o quanto precisamos uns dos outros, apresente vídeos, faça dinâmicas, jogos, brincadeiras, enfim, motive-os ao trabalho em grupo ao invés de impô-lo.

        Em geral os alunos adoram trabalhar juntos, mas se apesar de tudo isso, sua turma ainda não está motivada, talvez seja melhor adiar o início das atividades com aprendizagem cooperativa até que eles estejam prontos, para que de fato as atividades produzam bons resultados e não se tornem mais um momento desagradável no processo de ensino-aprendizagem desses alunos.

          Em geral, quanto mais velhos forem os alunos, maior é chance de se você se deparar com esse problema. As crianças realmente amam trabalhar juntos e acham o trabalho cooperativo muito divertido. Já os adolescente e adultos talvez precisem ser mais motivados por você.

  • E se um aluno não quiser trabalhar em grupo...

       Se a maioria da sala está motivada, mas apenas um aluno se recusa a esse tipo de trabalho, tente argumentar que será importante para ele aprender dessa forma, lembre-o que na vida cotidiana trabalhamos em equipe o tempo todo, já que ele não cozinha a própria comida, não fabrica a própria roupa, etc. Lembre-o do quanto ele depende de outras pessoas e faça-o refletir sobre o quanto ele ajuda outras pessoas. Mostre que ele é importante para as pessoas que o cercam, e que ele também precisa delas. Procure argumentos que possam convencê-lo, para isso é importante que você o conheça bem.

       Se nada disso funcionar, em último caso, você pode propor que o aluno realize uma atividade sozinho. Reforce que não significa que ele vai trabalhar sozinho sempre, mas apenas que terá uma oportunidade de refletir sobre a melhor forma de trabalhar. Proponha exatamente a mesma atividade que o grupo vai fazer, com as mesmas funções e o mesmo tempo e não permita que ninguém o ajude. Certamente ele irá se dar conta que se estivesse trabalhando em grupo seria mais eficaz, mais rápido e mais divertido.

  • E se os alunos não quiserem ficar no grupo de base para o qual foram designados...

       Pense muito sobre isso antes de montar o grupos grupos de base, tente não forçar o convívio de alunos que já tem dificuldades em se relacionar. No entanto, apesar disso, no início os alunos pedem muito para trocar de grupo, isso normalmente acontece quando enfrentam um conflito que não conseguem resolver ou quando dois ou mais deles não chegam a um acordo.

        Lembre-se de deixar claro no início que os grupos serão permanentes e seja firme nesse princípio, abrir precedentes pode dificultar o processo de desenvolvimento dos grupos de base. Se no primeiro problema o aluno for trocado, muitos outros se recusarão a resolver problemas que aparecerem pra também poder trocar.

       Tente acompanhar mais de perto os grupos que apresentam problemas para ajudá-los a pensar soluções e mediar seus conflitos, proponha atividades ou dinâmicas para que se conheçam e criem empatia pelos membros do seu grupo, argumente que em uma família, ele não troca de mãe só porque não concorda com ela.

        Se os conflitos forem muito constantes, você pode colocar a tolerância, a paciência e o perdão como objetivos de ensino de competências sociais e pensar estratégias para trabalhar essas habilidades com toda a turma.

        Quando o aluno quiser trocar de grupo para não trabalhar com algum colega peça que ele argumente o porquê. Proponha que escreva 10 razões para não trabalhar com aquele colega e 10 razões para trabalhar, diga que ele deverá permanecer no grupo, junto com esse colega, até encontrar 10 razões para trabalhar com ele. Quando isso acontecer, certamente ele já estará convencido de que não há problemas em ficar no grupo, afinal, todos temos defeitos e também qualidades. Se ele ainda não estiver convencido, peça que faça a mesma lista sobre ele, e mostre que também os outros podem ter razões para não querê-lo no grupo e que mesmo assim, estão juntos. Relembre novamente a tolerância, o respeito e o perdão.

        Mais uma vez, esse problema é mais fácil de ser resolvido entre crianças, elas estão mais suscetíveis a mudanças do que adolescente e adultos. Em casos onde você acha que montar um grupo de base pode criar muitos problemas, você pode permitir que os alunos se organizem e escolham seus grupos, mas tenha consiência que muitas competências não serão desenvolvidas e a exclusão de um ou alguns alunos certamente continuará acontecendo.

       Trocar um aluno de grupo pode sim ser considerado, porém como última opção e depois de esgotadas todas as possibilidades.

  • E se algum aluno não corresponde aos objetivos propostos para o desenvolvimento de competências sociais...

     O desenvolvimento de algumas competências pode ser mais demorado do que outras, porém alguns alunos podem demorar ainda mais tempo que os colegas para começar a apresentar os comportamentos desejados.

      Nesse caso estabeleça metas mais curtas, comportamentos mais fáceis e até objetivos individuais. Enquanto alguns alunos já podem ter total domínio do tom de voz e só precisam aprender a se organizar para falar um de cada vez, aquele aluno ainda pode estar aprendendo a esperar sua vez de falar e não conseguir usar um tom de voz adequado dentro do grupo. Converse com o grupo para que tenham paciência e tentem ajudá-lo em sua meta. Esses alunos costumam ser hostilizados e até mesmo excluídos pelos outros membros do grupo.

      Em outros casos alguns alunos realmente se recusam a apresentar os comportamentos desejados, não por não conseguirem, mas por alguma razão desejarem ser rebeldes. Em primeiro lugar, busque encontrar a razão de tal comportamento. Continue sempre reforçando a importância desses comportamentos, reforce na autoavaliação que ele não conseguiu, mas pode conseguir, que ele é capaz. Converse com ele sobre como ele se sente, sobre o que pensa do trabalho que deveria ter realizado, sobre quais consequencias esses comportamento têm trazido para ele.

       Converse muitas vezes com o grupo para que compreendem, assim como você compreendeu, que é um momento difícil para o aluno, mas que com a ajuda, paciência e carinho dos amigos ele pode melhorar. Proponha que os outros membros do grupo se aproximem desse aluno fora da sala, nos intervalos, em outras aulas, no caminho da escola, ou mesmo na vida fora da escola, que de fato sejam amigos. A medida que ele cria empatia pelos colegas do grupo terá mais desejo em ajudá-los no trabalho cooperativo do que em atrapalhá-los.

       Lembre-se que alunos com muitas dificuldades em demonstrar comportamentos adequados em sala de aula, não importa qual seja a metodologia, precisam de atenção, carinho e paciência.

       

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